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Eu, Tonya

fevereiro 26, 2018

NOTA: 8

Pouca gente se lembra de Tonya Harding – nem necessariamente deveria. A competidora de patinação no gelo pelos Estados Unidos nas Olimpíadas de Inverno de 1994 – a grande promessa de sua carreira – conseguiu apenas a oitava colocação, após o qual abandonou a carreira de patinação. Talvez essa seja a razão pela qual Eu, Tonya, filme dirigido por Craig Gillespie e roteirizado por Steven Rogers não tenha tido chance para o pódio de Melhor Filme do Oscar 2018. O longa é um filme bem-sucedid0 sobre um grande fracasso, que foi a vida de Tonya enquanto patinadora.

Protagonizada com grande carisma pela australiana Margot Robbie, Tonya é representada como uma menina pouco convencional para o esporte: roqueira, extravagante, bocuda e informal, ela raramente conseguia a aprovação dos juízes das competições, por mais que sua patinação fosse boa, por ser um pontinho fora da curva. Sua esquisitice e a falta de pertencimento à categoria – que requer uma seriedade que Tonya pareceu nunca ter – garantiram-lhe poucos prêmios.

Isso sem contar, é claro, sua abominável mãe, que agiu com ela como um monstro ou uma escravizadora, obrigando-a a ser mais do que perfeita, criticando cada má conduta – que podia ir de um giro errado a uma distração na vida de adolescente – e nunca, nunca elogiando os méritos da menina. E, nesse sentido, Allison Janney está brilhante, encarnando uma pessoa odiável, incapaz de demonstrar o mínimo amor pela filha. Mas isso não é lá muito importante, porque o filme não se deixa abalar pela onda de negatividade que deve ter sido essa mulher na vida de Tonya. Não! Tal como a patinadora, o filme faz questão de ir empurrando a mãe para debaixo do tapete, de modo que sua presença se vá fazendo cada vez menos essencial em tela e na vida da esportista.

Quem foi ganhando cada vez mais relevância foi o namorado e depois marido Jeff Gillooly, um abusador de primeiríssima mão que, quando não espancava a namorada, torturava-a com violência psicológica da mais alta qualidade: “volta comigo ou eu me mato”. Esse relacionamento, embora mais insalubre, impossível, tampouco impediu Tonya de treinar, quebrar recordes eventualmente ganhar prêmios importantes. Ela foi a primeira mulher americana a conseguir realizar o salto triple axel (com três piruetas e meia). Em 1991, ela levou a medalha de prata no Campeonato Mundial e era uma das favoritas para as competições futuras.

Obviamente tudo foi para o saco quando o Gillooly e um amigo seu, Shawn Eckhardt – um imbecil completo, com mania de grandeza e a encarnação de uma figura que assustadoramente aparece com frequência demais: o redneck estadunidense – decidem organizar um boicote à patinadora favorita, Nancy Kerrigan, após Tonya ter recebido ameaças contra sua vida. De acordo com a versão de Gillooly, a intenção era uma, mas a coisa saiu do controle quando seu amigo cretino decide agredir fisicamente Kerrigan, impossibilitando-a de competir por completo.

Passando por inquéritos policiais, piores momentos (se é que era possível) com o marido e sofrendo de ansiedade, Tonya entra na pista de gelo, em 1994, sob muita pressão, e acaba em oitavo lugar. Seu sonho havia terminado, e ela foi proibida judicialmente de jamais voltar a patinar.

Encarnando Tonya em diversos momentos da vida, da adolescência aos quarentões – embora a menos convincente seja a adolescente, já que nem mesmo o aparelho falso ou a equipe de maquiagem conseguiram tirar os 27 anos que Robbie já tem –, a atriz se mostra confiante. Como demonstrou em O Lobo de Wall Street, ela sabe usar o humor para contar histórias fortes, e aqui não é diferente.

Com mais pitadas de comédia do que se poderia imaginar a princípio, Eu, Tonya, parece ser uma fotocópia realista do escracho de sua biografada – a qual Robbie também interpreta já mais velha e ex-boxeadora, relembrando o “incidente” do passado e a vida ao lado de Gillooly. É um filme interessante não só para quem é fã do esporte. E mais, a maquiagem e o CGI empregados para fazer com que fosse Margot, e não Tonya, a deslizar pelo gelo são eficientes, imergindo o espectador na história.

Há alguns momentos interessantes de cortes de cenas e fotografia inspirados, e a trilha sonora é bacana, mas pouco marcante. Ainda assim, é uma pena que esteja concorrendo somente como Melhor Atriz, quando também deveria ter sido dada uma chance a Sebastian Stan como coadjuvante e ao próprio filme. Eu, Tonya, poderia perfeitamente entrar no lugar de A Forma da Água, novo filme de Guillermo Del Toro que está sendo amplamente superestimado pela crítica (e do qual falarei em posts futuros).

Título Original: I, Tonya
Direção: Craig Gillespie
Gênero: Biografia, comédia e drama
Ano de Lançamento (EUA): 2018
Roteiro: Steven Rogers
Trilha Sonora: Peter Nashel
Fotografia: Nicolas Karakatsanis
Tempo de Duração: 2h
Com: Margot Robbie (Tonya Harding), Sebastian Stan (Jeff Gillooly), Allison Janney (Lavona Harding), Julianne Nicholson (Diane Rawlinson), Paul Walter Hauser (Shawn Eckhardt), Bobby Cannavale (Martin Maddox), Caitlin Carver (Nancy Kerrigan).