Posts Tagged ‘bilbo bolseiro’

h1

O Hobbit: A Desolação de Smaug

janeiro 23, 2014

20131124-1-copia-2NOTA: 9

A segunda parte da história de Bilbo Bolseiro estreou mês passado e, como toda continuação, teve a intenção de adiantar a história em direção a um desfecho épico – ou seria só a intenção do diretor, Peter Jackson? Seja como for, O Hobbit – A Desolação de Smaug supera a primeira parte em alguns pontos. O primeiro deles é no próprio roteiro que, embora tenha sua dose de problemas, é muito mais divertido e dinâmico, deixando espaço para apreciarmos alguns detalhes que haviam passado em branco na primeira projeção – o que também funciona no sentido oposto, evidenciando alguns absurdos de conteúdo. Por exemplo, grande parte das cenas de ação são mais bem trabalhadas, desde a entrada na casa de Beorn até a cena final com o dragão. Entretanto, e apesar de todos os esforços do cineasta, o 3D é muito mal empregado, provacando mal-estar no espectador nas cenas de maior movimentação.

De qualquer maneira, é curioso observar como Jackson se preocupou em ressaltar a natureza de cada raça, o que não havia acontecido em O Senhor dos Aneis. Aqui, os orcs não falam sequer uma palavra da “língua comum”, o que é a mesmo tempo curioso e tem um efeito de contextualização ótimo – se naquela época Sauron, que usava a língua comum, ainda não estava forte, não faria sentido seus servos serem habituais a ela. O que bate de frente com outro tema que abordo mais adiante.

Não preciso dizer que meus personagens favoritos são Gandalf e Bilbo – cuja dinâmica entre os atores Sir Ian McKellen e Martin Freeman se faz notar em cada cena. Suas atuações conferem grandeza e complexidade. O dragão Smaug é o elemento mais esperado de todo o filme, e não decepciona. Seu design é condizente com o de um monstro tolkieniano, e sua “atuação” pela voz e espírito de Benedict Cumberbatch – que também faz a aterrorizante voz do Necromante – é o ponto alto do filme.

Outra figura que os fãs desejavam muito ver é o homem-urso Beorn, que também se mostra interessante – embora nem de longe demonstre o perigo que Gandalf anuncia antes de invadir sua casa. Posso escalar aqui sem pestanejar minhas três cenas preferidas: a toca das aranhas, a fuga pelo rio e a conversa de Bilbo com Smaug – e, novamente, cada uma dessas sequências tem sua parcela de problemas. Na primeira, pude me dar conta do design de som, feito de maneira idêntica à trilogia do Anel, o que deixa o filme um pouco óbvio.

A cena em que Bilbo e os anões conseguem fugir dentro de barris é engraçada e muito bem bolada. Porém, como dito acima, a ação é bastante prejudicada pelo 3D. Tanto que em determinado momento não sabemos se os personagens que vemos são elfos ou orcs – e só essa comparação já dá a dimensão do problema. E, enquanto a cena de Bilbo com Smaug é inspirada, verossímil e, ainda assim, totalmente coincidente com o livro, o que se passa depois em Erebor – e na própria Esgaroth – me pareceu bastante absurdo, para dizer o mínimo.

Talvez a maior dificuldade da projeção seja manter-se coerente. A partir do momento em que os personagens chegam à Cidade do Lago, o filme fica algo maçante, já que é aí onde se concentra a maior quantidade de problemas dessa continuação. A começar pela tensão desnecessária que Jackson e os roteiristas parecem fazer questão de criar a cada minuto. Quando chegam diante da porta de Erebor (a escada, por sinal, tem um conceito incrível) os anões e Bilbo perdem a última luz do Dia de Dúrin. Analisemos:

1) Por que diabos eles abandonam quatro anões para trás? Isso não faz o menor sentido – nem mesmo para justificar o que acontecerá com eles na sequência; 2) Contrariando toda a caracterização que o cineasta havia feito na trilogia anterior, Thorin (o pior herói de todos os tempos, mas isso fica para o último filme), os anões desistem de buscar a entrada para a Montanha Solitária. E aquela história de que eles são cabeças-duras e extremamente teimosos? Para contextualizar, cito o próprio filme: “você não aprendeu nada com a teimosia dos anões?” 3) Para que a tensão desnecessária de quase perder a chave – e, em outro momento, vemos Bilbo quase perdendo o Anel – se todos sabemos que eles vão entrar – e que o Anel não é perdido? E, finalmente, 4) Os anões não viram, no capítulo anterior, que Elrond leu o mapa sob a luz da lua porque estava escrito em mithril? Não seria excessivamente óbvio supor que a porta também estaria desenhada em mithril? Aparentemente não.

Agora, chegando à questão principal (e ainda sobre os anões): como (deus, como?!) Peter Jackson inclui um romance entre Kili e Tauriel? Um anão e uma elfa. Como? Por quê? Qual o fundamento disso? Além de ser os 20 minutos a mais que sobram no filme, não há, em toda a mitologia de Tolkien, qualquer informação que embase essa decisão. É fato conhecido na Terra-Média que elfos e anões se odeiam, e que esse ódio finalmente termina com a amizade entre Legolas e Gimli. Se, ao invés disso, ele tivesse colocado um romance entre Legolas e Tauriel, seria ruim, mas seria, ao menos, mais justificável. Isso não tem defesa – e ele ainda deu toques de Arwen, quando ela curou Frodo depois de levar a facada do Rei Bruxo, com luzinha santa e tudo o mais! Ah, não, Peter!

Há alguns problemas indissociáveis de O Hobbit 2. Problemas que, provavelmente, serão repetidos – e aqui estou pensando no terrível desfecho que Jackson bolou para o romance “proibido” – e poderão se agigantar conforme nos aproximamos do fim. Só posso esperar que o diretor não seja tão megalômano a ponto de achar que deve incluir sua marca registrada a cada take, e que se preocupe em desenvolver a complexa história que aguarda a última parte, Lá e de Volta Outra Vez, para ser lançada em dezembro desse ano. Ele não terá outra oportunidade.

Título Original: The Hobbit – The Desolation of Smaug
Direção: Peter Jackson
Gênero: Aventura, fantasia
Ano de Lançamento (EUA/Nova Zelândia): 2013
Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson e Guillermo del Toro
Trilha sonora: Howard Shore
Fotografia: Andrew Lesnie
Tempo de duração: 161 minutos
Com: Martin Freeman (Bilbo Bolseiro), Ian McKellen (Gandlalf), Richard Armitage (Thorin Escudo de Carvalho), Ken Stott (Balin), Graham McTavish (Dwalin), William Kircher (Bifur), James Nesbitt (Bofur), Stephen Hunter (Bombur), Dean O’Gorman (Fili), Aidan Turner (Kili), John Callen (Óin), Peter Hambleton (Glóin), Jed Brophy (Nori), Mark Hadlow (Dori), Orlando Bloom (Legolas), Evangeline Lilly (Tauriel), Lee Pace (Thranduil), Cate Blanchett (Galadriel), Benedict Cumberbatch (Necromante/Smaug), Mikael Persbrandt (Beorn), Sylvester McCoy (Radagast), Luke Evans (Bard/Girion), Stephen Fry (senhor da Cidade do Lago), Ryan Gage (Alfrid), Manu Bennett (Azog) e Lawrence Makoare (Bolg).

h1

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

janeiro 14, 2013

The_Hobbit_An_Unexpected_Journey_poster_Hobbits_749x1109As aventuras de Jackson*

Quase dez anos depois do lançamento de O Retorno do Rei, o diretor Peter Jackson retorna ao mundo da Terra-média

NOTA: 8,5

Para os fãs do escritor sul-africano J. R. R. Tolkien, Peter Jackson já é quase parte da família. Hábil ao levar às telas com confiança o clássico O Senhor dos Aneis, o diretor não só ganhou o respeito dos admiradores do livro, como criou um novo mundo de possibilidades – para quem já assistiu ao filme e resolveu ler o livro depois, impossível imaginar paisagens e personagens diferentes daqueles retratados no cinema. Quando anunciou o lançamento de O Hobbit, foi como se todos os sonhos dos fãs (ou quase todos) se tornassem realidade.

Após assistir duas vezes ao longa no cinema em 48 quadros por segundo (o polêmico fpr), só posso dizer que, apesar de ter gostado muito, fiquei decepcionada. Não pela qualidade da película, extremamente realista e bem feita, ou ainda pelas paisagens estonteantes, transformando definitivamente a Nova Zelândia na Terra-média da vida real. Me desapontei pois estava esperando algo totalmente diferente, tanto quanto uma história é diferente da outra. O mundo é, sim, o mesmo, e entendo as analogias que foram feitas para o espectador poder fazer o paralelo entre uma e outra trilogia. O que não esperava, contudo, era a repetição de algumas situações e até mesmo da (pasmem!) trilha sonora, que em determinados momentos é idêntica àquela do Senhor dos Aneis.

Considerando que conheço essa trilha de trás pra frente, quando ouvi as mesmas notas que se referiam a um determinado momento da trilogia anterior sendo utilizada em um contexto totalmente distinto – no caso, quando Thorin decide atacar Azog é o mesmo tema musical de quando Frodo é esfaqueado no Topo do Vento – senti uma ponta de tristeza que talvez não se dissolva com os filmes que vêm a seguir.

Para aqueles que estão familiarizados com a obra de Tolkien, sabem que o que acontece com a narrativa de Bilbo Bolseiro pouco tem a ver com o desenrolar da historia de seu sobrinho Frodo, 60 anos depois do achado do Anel. Mais uma vez, entendo que foram necessárias alterações para linkar ambas as histórias, mas confesso que esperava por algo novo e com cheiro de saído do forno. A sensação que me deixou foi como se este fosse um quarto filme da trilogia anterior. De certa maneira, é.

Mas é preciso ressaltar que isso não faz com que eu desgoste ou odeie o filme. Pelo contrário. As cenas de ação são ótimas, as paisagens, deslumbrantes, e a aventura diverte até os momentos finais. Infelizmente, alguns dos melhores momentos do filme são aqueles que não aparecem no livro: as cenas da destruição de Valle e Erebor, a chegada do dragão e as batalhas dos anões contra os orcs em Moria. E por mais interessantes que sejam essas passagens, elas pouco têm a ver com a história em si.

A narrativa tornou-se fragmentada, intercalando cenas de profundidade psicológica, que finalmente explicavam mais dos seus personagens (em especial Thorin Escudo-de-Carvalho), com um perigo atrás do outro. Tornaram um livro de narrativa leve e quase infantil em uma história séria e com carga dramática que na realidade não existe. A relação de Bilbo com Thorin ao final é patética e forçada. As atuações se salvam porque, afinal de contas, Jackson é um bom diretor e sabe conduzir seus atores. É difícil destacar, contudo, qual a melhor atuação, uma vez que só conseguimos nos lembrar do nome de três personagens novos ao fim da projeção: Thorin, Radagast e, claro, o próprio Bilbo – que se saem muito bem com aquilo que lhes foi dado.

Atuações como a de Ian McKellen ou Hugo Weaving são sempre prazerosas de se assistir, e seus personagens se destacam entre quaisquer em cena. Já Cate Blanchett transformou Galadriel numa estátua. Ela mal se move e, quando o faz, parece que está levitando sobre uma plataforma. Sei que isso seria uma “característica dos elfos”, mas não me convenceu. A cena do Conselho Branco é, apesar de tantos talentos reunidos, um pouco constrangedora.

O ponto alto do filme, sem dúvida alguma, a aparição de Andy Serkis como Gollum. Totalmente à vontade na pele do anti-herói, a cena da charada em sua caverna escura é tocante. Aliando a ingenuidade e a vilania do personagem, Serkis confere ainda mais àquele que já conhecíamos tão bem. Angustiante, sofremos com a ânsia de Bilbo, e compreendemos por que, apesar de trapacear, aquela parecia a coisa certa a ser feita. O momento no qual ele poupa a vida da criatura (sem que ela sequer imagine) e salta por cima dela é magnífica.

Mas, no fim, a impressão é que Peter Jackson enfim cedeu às tentações de Hollywood para ganhar rios de dinheiro, fazendo três filmes de um único livro – isso era totalmente compreensível no caso de O Senhor dos Aneis, uma narrativa muito mais complexa que esta. Para o caso aqui tratado, realmente não faz sentido. Não há história suficiente para preencher três filmes, mesmo que ele vasculhe nos relatos mais obscuros das History of Middle-Earth – o compêndio de 12 livros publicado por Christopher Tolkien. São personagens que, mesmo no livro, não têm muita personalidade; alguns mal são citados e parecem estar lá para fazer número. A narrativa consta em andar, cair em uma armadilha, correr perigo, ser salvos por Gandalf – até o ato final quando chegam enfim à montanha e Bilbo pode mostrar seu valor.

Certamente os dois próximos longas darão mais atenção aos anões, pois haverá tempo de sobra para explorar cada um. As viagens de Gandalf, seu contato com Aragorn, a caça a Gollum… tudo estará lá, bem explicadinho. Fico feliz em saber que posso ver essas coisas no cinema, é algo que agrada aos fãs. Não posso dizer, contudo, que este filme tenha a mesma qualidade que os anteriores da mitologia tolkieniana.

*Antes que alguém diga que eu não conheço a obra, é bom mencionar que já li todos os livros de Tolkien muito mais de uma vez.

Titulo Original: The Hobbit – An Unexpected Journey
Direção: Peter Jackson
Gênero: Aventura
Ano de Lançamento (EUA/Nova Zelândia): 2012
Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson e Guillermo del Toro
Trilha sonora: Howard Shore
Fotografia: Andrew Lesnie
Tempo de Duração: 169 minutos
Com: Ian McKellen (Gandalf), Martin Freeman (Bilbo Bolseiro), Richard Armitage (Thorin Escudo-de-Carvalho), Ken Scott (Balin), Graham McTavish (Dwalin), William Kircher (Bifur/ troll Tom), James Nesbitt (Bofur), Stephen Hunter (Bombur), Dean O’Gorman (Fili), Aidan Turner (Kili), John Callen (Óin), Peter Hambleton (Glóin/ troll William), Jed Brophy (Nori), Mark Hadlow (Dori/ troll Bert), Ian Holm (Bilbo velho), Elijad Wood (Frodo Bolseiro), Hugo Weaving (Elrond), Cate Blanchett (Galadriel), Christopher Lee (Saruman), Andy Serkis (Gollum), Sylvester McCoy (Radagast), Barry Humphries (Rei Goblin), Jeffrey Thomas (Thror), Michael Mizrahi (Thráin), Lee Pace (Thranduil), Manu Bennet (Azog), Bret McKenzie (Lindir).