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Hamlet

junho 1, 2009

Ser ou não ser?

Na clássica interpretação de Laurence Olivier, o questionador dos tempos modernos shakespereano tem o principal da peça, boas atuações e bela fotografia em preto & branco

NOTA: 9,5

Poético, mas não piegas. Diferente assistir um preto & branco tão bonito como esse. Poético, mas não forçado, sem alegorias. Uma das mais consagradas peças de Shakespeare, este Hamlet de 1948 recebeu uma adaptação digna do dramaturgo inglês.

A atuação do ator – e também diretor Laurence Olivier – pode parecer exagerada. Mas quando tratamos de um personagem (aparentemente) cheio de dúvidas e em conflitos psicológicos, o exagero de Olivier se encaixa muito bem. A peça, na maravilhosa tradução de Millôr Fernandes, é uma reprodução fiel à tela, tanto pelo personagem principal quanto pelo resto do elenco.

Laurence parece ter-se deixado levar um pouco pela célebre frase da peça, “ser ou não ser, eis a questão” – que, diga-se de passagem é uma breve linha de um pensamento muito mais profundo e cheio de significados do que apenas a citação. Gera dúvidas, mas o leitor-espectador sabe exatamente o que acontece e quem são os culpados das tragédias que ocorrem no reino da Dinamarca.

Ao contrário do que a maioria pode ser induzida a pensar, Hamlet não tinha dúvidas quanto a nada que acontece na história. O príncipe é consciente de tudo que faz e que se passa à sua volta. Sua dúvida surge em tomar ou não a atitude que deve tomar para salvar o reino – e, com maestria, Laurence dá vida a este personagem cínico, brilhante e vingativo.

Cheia de monólogos – tal como no livro – a transposição dos pensamentos de Hamlet para a tela é feita de maneira dramática e envolvente por Olivier, que soube utilizar seu olhar como uma forma de expressão totalmente convincente. Nós torcemos pelo jovem príncipe desde o princípio, quando sabemos do malogro que lhe acontece. Ainda que em branco & preto, podemos observar a qualidade da produção da época, que não provocam frustrações de ambientação ou figurino.

Para além disso, deduzir Hamlet como o “mocinho” da história pode ser um grande equívoco. O príncipe é, sem dúvida, uma vítima da própria condição familiar, envolvido em uma briga quase lendária pela sucessão do trono – papel que pode ser facilmente destruído quando imaginamos as atitudes tomadas por Hamlet após descobrir ter sido traído, e as consequências logicamente desastrosas de todas elas – não adivinhar o final é quase impossível quando se trata de uma tragédia shakespearena. Hamlet foi realmente injustiçado? Tudo o que fez no final merecia tantos estratagemas, tantas maquinagens? Sua vingança, afinal, valeu a pena?

Se a dúvida permanece para nós quanto às questões filosóficas e morais da peça, o filme convence e cativa de um modo raramente visto no cinema atual.

Título: Hamlet
Direção: Laurence Olivier
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (Reino Unido): 1948
Roteiro: Laurence Olivier
Trilha sonora: William Walton
Fotografia: Desmond Dickinson
Tempo de Duração: 155 minutos
Com: Laurence Olivier (Hamlet), Basyl Sydney (Claudius), Eileen Herlie (Gertrudes) e Jean Simmons (Ofélia).